“E muito tempo passou, pensando em ser tão feliz. Mas, a Tereza dotô, felicidade não quis. Pus meu sonho neste olhar, paguei caro o meu amor. Por causa do outro caboclo, meu rancho ela abandonou. Senti meu sangue ferver, jurei a Tereza matar. O meu alazão arriei e ela eu fui procurar. Agora já me vinguei, é esse o fim de um amor. Essa cabocla eu matei, é a minha história doutor”.
As linhas acima fazem parte de uma das mais clássicas composições sertanejas, de autoria de João Pacifico e Raul Torres, duas lendas da música sertaneja. “Cabloca Teresa”, gravada por artistas como Chitãozinho & Chororó e Fagner, bem retrata o machismo possessivo do brasileiro, que ceifou e ceifa milhares de vidas de nossas mulheres, perpetuando uma de nossas maiores barbáries, enquanto povo se diz civilizado.
Como esta, tantas outras músicas ou “coisificam” ou estabelecem patamares de desrespeito em absoluto para com as mulheres, criando um caldo cultural motivador de toda sorte de violências, que na maioria das vezes começam com “não, um tapinha não dói”, e acabam por terminar em cárceres privados, tiros, facadas e estrangulamentos.
Bem verdade que depois de crimes cometidos na década de setenta, pelos famosos Doca Street, que matou Ângela Diniz, e Lindomar Castilho, que tirou a vida de Eliane de Grammont, é que a tese de legitima defesa da honra viu-se vencida em terras paulistas, mas ainda sobrevive nos rincões do Brasil.
Para o enfrentamento desta tragédia, reconhecemos ser passo importante a Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, aprovada no Governo Lula, mas sabemos que ainda falta muito, não só pelo aspecto do respeito à integridade física, mas principalmente pelas barreiras sócio-econômicas e culturais que ainda permeiam a sociedade brasileira.
De nada adianta uma data, nem as comemorações. É preciso uma educação realmente cidadã, que respeite a diversidade, que trate homens e mulheres com igualdade, respeitando as diferenças. Educação esta, não apenas a escolástica, mas a começar na própria casa, no trabalho, no lazer, enfim, em todos os espaços de convivência.
E porque não dizer que sonhamos com um dia em que as letras das músicas sejam tais como as de Cartola: “Que as rosas não falam, simplesmente exalam o perfume que roubam de ti”. De você mulher, mãe, filha, operária, atleta. De você, cujo ato maior de amor é perpetuar a vida.
Luis Carlos Romazzini
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