O Santos de 1978 de uma culinária de Batata e Feijão, sob a batuta do Chef Juari. Moeram um timaço de Valdir Perez, Getulio “cara grande”, Muricy, Zé Sergio e companhia, numa final dramática com prorrogação e tudo, emoção que, agora, a ditadura das TVs não permite mais. Conheci naquele jogo a primeira amargura com meu tricolor, que pouco tempo antes derrotara o Atlético Mineiro no titulo nacional de 1977. Mas, chega de saudosismos.
Ao time de hoje, que pude ver jogar e golear meu São Paulo nas finais do ultimo paulista, ainda falta muito para ser brilhante, pois o futebol não se circunscreve apenas às quatro linhas. É muito mais que isto. É uma paixão e toda paixão tem reflexos na sociedade. De todos os astros, espera-se muitos mais que a nobreza da arte, mas a nobreza dos atos. Não que queiramos que sejam todos uma cópia de Madre Tereza de Calcutá, mas ao menos que se mantenham na média da moral coletiva, da civilidade e do respeito para com os valores mais comezinhos.
O time do Santos atual vem de percalços em percalços. O goleiro teve problema com doping num passado recente, o Ganso recusou-se a sair de campo em uma substituição, boa parte da equipe recentemente recusou-se a entrar em uma entidade de orientação espírita que cuida de crianças doentes, demonstrando um preconceito religioso inaceitável. Agora, o mundo todo vê pela internet o palavreado de fundo de penitenciaria dos jogadores santistas.
Um ponto que me chama atenção é a fala do goleiro Felipe que, ao responder a um internauta, diz que gasta mais em ração com seu cachorro, que o possível salário do torcedor. Pobre goleiro. São esses milhares de anônimos e assalariados que contam moedas para irem ao estádio, para comprarem os produtos do seu time e, por conseqüência, pagar seu salário, do qual parte gasta com ração para seu cachorro.
Alguns jogadores do Santos (não podemos culpar a instituição Santos Futebol Clube) não têm a mínima noção da responsabilidade de seus atos nem do alcance destes. Não imaginam quão maléficos e antipedagógicos são seus exemplos.
A situação demonstra que escolinhas podem formar e revelar astros precoces, mas falham (e muito) enquanto formadoras de homens com caráter. Aí sim, creio, reside o desafio de todos os dirigentes do futebol e não apenas dos dirigentes santistas. Pois, por enquanto, os que seriam meninos da vila são bebês que precisam usar fraldas, pelos motivos que todos sabemos. E, por certo, a história gloriosa do Santos e seus torcedores merecem muito mais respeito.
Luis Carlos Romazzini