quarta-feira, 28 de abril de 2010

Artigo - Ciro, galhos e raposas

Traz uma antiga história, entre uma raposa ao pé da árvore e um suculento galo em um dos galhos, quando a astuta raposa lhe dá a boa nova: ‘Ei, seu galo, desça desse galho, não mais existe entre nós essa historia de cadeia alimentar, somos todos irmãos’. O galo, que suspeito seja mineiro, lhe respondeu: ‘pois bem, espere a matilha da cães chegar, que descerei para nos confraternizarmos’. A raposa, mais que depressa, deu o fora.

Ciro, desceu do galho da política cearense, onde vivia e convivia aos beijos com tucanos, petistas e outras espécimes da política. Lá, era um galo tão forte que impunha respeito, mudava de galhos, em tempo, de partidos, e tudo ia bem. Até no quintal de casa punha ordem. De repente, outros frangotes: seu próprio irmão tornou-se governador. No Senado, um arranjo caseiro deu-lhe paz com a antiga dona da pensão. E assim se foi. Mas, como mandatos têm prazo de validade, chegou a hora de renovar o seu, ao qual, em suas próprias palavras, não mais agüenta ficar.

Depois de tantos ‘saracuteios’, inclusive com mensagens dúbias de seu próprio partido, simbolizado por uma pacífica pomba branca, tentou aportar nos galhos paulistas, cheios de tucanos, petistas, pepistas, demos e outras espécimes, que até mesmo a pomba branca tem asas azuis e bico grande, nesse saco de gatos, digo, aves. Viu, cada vez mais, suas reservas de grãos mirrarem a cada dia, ao ponto da senadora Marina Silva tocar-lhes os esporões nas pesquisas eleitorais, o que foi determinante para o deblache total.

Dizem que ‘em briga de jacu, nhambu não pia’, mas vou piar. A reunião do PSB em Brasília foi mais uma daquelas missas de corpo presente, mas com o individuo vivo. Ainda bem que Ciro não foi. Não lhe seria fácil ver viúvas chorarem com a metade do rosto, pois a outra era de largos sorrisos pelo seu espólio político.

Ciro não deve ter servido ao Exército. Digo isto, pois, nas operações de ocupar campos de guerra em progressão existem três perguntas: para onde vou, como vou e quando vou? Na política, há uma quarta: com quem vou? Poderia ter mirado num tucano-galo-mineiro, que, por mais que diversas raposas o chamassem, não desceu do galho. Assistirá, em belo poleiro, o tenebroso vôo do tucano-mor de São Paulo. Receberá o tapete vermelho em seu vôo ao Senado e, de lá, por ser ainda jovem, ficará preparando a garganta para tentar um canto nacional. Mas, o Ciro é jovem, se perdeu um pouco das penas. Agora ainda é tempo, talvez até para jogar um xadrez e perceber que não dá para ficar sem uma torre por perto, no caso um poleiro forte e rijo, pois a política é a arte de moer gente, mas diferentemente das moendas de cana, nela não se pode sobrar nem o bagaço.

Ele verá que ainda é tempo. Que não basta engolir sapos, barbudos ou não. E, por falar em sapos, que o mesmo pula por pura necessidade, e a velocidade é ditada pela aproximação das cobras. Xii, falei em cobras. Na política, sobram venenos, então paro por aqui.
Luis Carlos Romazzini