quinta-feira, 11 de março de 2010

Artigo - Homens e pigmeus

Certo tempo, em certa ilha, os homens começaram a se ver como ínfimos seres, embora metricamente a média deles chegasse sempre a mais de metro e setenta. Não adiantava nada, andavam de cabeça baixa, de forma que por mais que lhes colocassem armaduras lá iam eles curvados como suinos. Sei lá do que sentiam vergonha ou medo. A verdade é que quanto mais se passavam os tempos, mais animalescos pareciam.

Havia uns com umas manias estranhas, guardavam tudo que viam em meias, jornais e até bíblias. Estes se assemelhavam aos guaximins, tudo queriam levar. Sei lá como viviam, só sei que tanto eles quanto suas proles viviam gordinhos, na mais absoluta imprestabilidade. Outros ainda tinham uma tal sindrome do bajulatus, parecidos com cachorros lambões. O frenesi era estarem sempre perto de uns tais poderosos, mal que acometia até aqueles que tinham por profissão falar aos demais tudo que acontecia. Era uma festa, pois quando bajulavam não recebiam tabletes de ração, a ração era outra, vinha em notas mesmo.

O tempo foi passando. De desencantos em desencantos, cada qual queria mesmo era cuidar de seu canto. Não mais se reuniam, nem mesmo no tal “Deus” acreditavam. Surgiu, então, uma cotovia, daquelas que cantavam para Stalim lá na Rússia. Encantou a todos, mas logo foi flagrada ao lado dos lobos, digo, homens que se pareciam com lobos. Não na solidão de um único amor, mas na paixão única pelo dinheiro, estes tudo faziam, até pintavam um céu cor de rosa para a cotovia.

Belo dia, um grilo anão gritou: liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. Um estranho eco inundou toda a cidade. Criai vergonha, pobre  anão, todos voces estão fadados a viver de joelhos, pelo pecado original da beleza de tua terra. Um papagaio caolho tudo ouviu e saiu a repetir: somos terra do pecado, pecado, pecado. Estranhamente, mais uma vez, o eco. Pecado da omissão.

Um dia, Deus desceu de DKW Vemag alada e, ao ver tudo aquilo, pensou logo: eis que aqui eu tinha planejado uma terra de pigmeus, o que será que Noé acabou por fazer na sua eterna luta para preservar espécies? Onde estariam os Homens erectus de bem? Erectus? Lá, se após estas indagações, Deus ganhou ou não um cargo de confiança no Governo da Cotovia. Por prudência, enquanto esteve nesta terra, não quis ele olhar-se no espelho, pois temia também se ver como pigmeu.

Luiz Carlos Romazzini

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