O poder inebria, dá aos tolos a sensação de serem senhores do tempo. Basta ver que, a cada grande revolução, os mandatários pretenderam impor nova Era. Assim fez Napoleão, Lênin e até Getúlio. Isso mesmo. Quiseram que seus tempos fossem iniciais. Hitler foi mais longe, ao planejar em milímetros um Reich de Mil Anos, cuja arquitetura, música e até a fé partissem de uma louca eugenia.
Trazendo aos dias atuais, é bem verdade que minha geração tem experimentado a transformação do “Poder”, de uma coisa quase que transcendental, para uma coisa de terráqueos. Uma coisa de escolhidos por Deus, para escolhidos por todos nós. Foi-se a época do quepe e do coturno, dos homens que preferiam o cheiro dos cavalos, às ordens do dia dos Ministros Militares, que não são reproduzidas nem pelos mais simples jornais de bairro.
Foi-se também, ou ao menos já em menor escala, o “Sabe com quem está falando?”. Uma pena que muitos ainda no “puder” pensem que “são”, quando na verdade “estão”. Daí decorre o que temos assistido corriqueiramente, com ex-prefeitos desesperados com suas contas sendo rejeitadas em tribunais e nas câmaras, onde contavam com massacrantes maiorias. E muitos daqueles Vereadores que lhes bajulavam, agora, em nome da “moralidade”, viram-lhes as costas e votam com pareceres de Tribunais, que condenam justamente aquilo que eles, Vereadores, defendiam de seus então Prefeitos.
O mais ácido diria que estes não têm a dignidade das prostitutas, pois estas vendem-se ao relento da noite ou ao brilho do sol. Digo que estes são escória sim, mas sobrevivem do lodaçal moral que acomete a todas as sociedades. São capazes de respirar no mais fétido, desde que degustem champanhe cara ou mantenham os buchos dos seus cheios. Desde que sustentem seus vícios, mansões e carrões. Não aspiram mais nada, a não ser manterem exatamente como estão, vivem e eternizam: na certeza de que prefeitos passam e eles sempre ficam.
Talvez por isso é mais fácil encontrar a marca dos passos dos sacis, que um ex-prefeito (ou ex-prefeita) feliz. São sempre monótonos e taciturnos. “Ah, no meu tempo...”, seguido de: “fui cercado por um bando de canalhas, fui traído por este ou por aquele”. Mas, na verdade, “este ou aquele” sempre existiu, como tais prefeitos e prefeitas, que não se deixem trair por seus egos. Pois haverá sempre um tribunal, uma câmara e contas a serem aprovadas, e que na maioria das vezes serão os espelhos que ignoraram durante o doce poder. Não adiantará lamentar os rostos agora deformados dos antigos aliados, pois eles sempre foram os mesmos. Aí, Inês é morta, pois nem tudo que reluz é ouro.
Luis Carlos Romazzini