quarta-feira, 24 de março de 2010

Artigo - O brilho falso do poder

“O dinheiro não traz felicidades, manda buscar”. Esse axioma enche a alma dos tolos e é uma das faces mais perigosas da existência humana. Há outras, por certo mais cruéis, como “O poder não abre caminhos nem trilhas, asfalta rodovias, pois as portas não se abrem, vez que inexistem”.

O poder inebria, dá aos tolos a sensação de serem senhores do tempo. Basta ver que, a cada grande revolução, os mandatários pretenderam impor nova Era. Assim fez Napoleão, Lênin e até Getúlio. Isso mesmo. Quiseram que seus tempos fossem iniciais. Hitler foi mais longe, ao planejar em milímetros um Reich de Mil Anos, cuja arquitetura, música e até a fé partissem de uma louca eugenia.

Trazendo aos dias atuais, é bem verdade que minha geração tem experimentado a transformação do “Poder”, de uma coisa quase que transcendental, para uma coisa de terráqueos. Uma coisa de escolhidos por Deus, para escolhidos por todos nós. Foi-se a época do quepe e do coturno, dos homens que preferiam o cheiro dos cavalos, às ordens do dia dos Ministros Militares, que não são reproduzidas nem pelos mais simples jornais de bairro.

Foi-se também, ou ao menos já em menor escala, o “Sabe com quem está falando?”. Uma pena que muitos ainda no “puder” pensem que “são”, quando na verdade “estão”. Daí decorre o que temos assistido corriqueiramente, com ex-prefeitos desesperados com suas contas sendo rejeitadas em tribunais e nas câmaras, onde contavam com massacrantes maiorias. E muitos daqueles Vereadores que lhes bajulavam, agora, em nome da “moralidade”, viram-lhes as costas e votam com pareceres de Tribunais, que condenam justamente aquilo que eles, Vereadores, defendiam de seus então Prefeitos.

O mais ácido diria que estes não têm a dignidade das prostitutas, pois estas vendem-se ao relento da noite ou ao brilho do sol. Digo que estes são escória sim, mas sobrevivem do lodaçal moral que acomete a todas as sociedades. São capazes de respirar no mais fétido, desde que degustem champanhe cara ou mantenham os buchos dos seus cheios. Desde que sustentem seus vícios, mansões e carrões. Não aspiram mais nada, a não ser manterem exatamente como estão, vivem e eternizam: na certeza de que prefeitos passam e eles sempre ficam.

Talvez por isso é mais fácil encontrar a marca dos passos dos sacis, que um ex-prefeito (ou ex-prefeita) feliz. São sempre monótonos e taciturnos. “Ah, no meu tempo...”, seguido de: “fui cercado por um bando de canalhas, fui traído por este ou por aquele”. Mas, na verdade, “este ou aquele” sempre existiu, como tais prefeitos e prefeitas, que não se deixem trair por seus egos. Pois haverá sempre um tribunal, uma câmara e contas a serem aprovadas, e que na maioria das vezes serão os espelhos que ignoraram durante o doce poder. Não adiantará lamentar os rostos agora deformados dos antigos aliados, pois eles sempre foram os mesmos. Aí, Inês é morta, pois nem tudo que reluz é ouro.
Luis Carlos Romazzini