quarta-feira, 30 de junho de 2010

Artigo - A bola rola

Diz a lenda que o jogo de xadrez foi inventado para entreter um Monarca, que perdera seu filho em uma batalha. Com o jogo, todos poderiam simular a guerra, sem o perigo das flechas e adagas. Mas, falando serio, só para aprender a jogar já é um saco, depois vem a monotonia de ter que esperar o adversário e, ademais, foi-se o tempo dos bispos poderosos e das torres protetoras.

Hoje, o jogo é de “la pelota”, que por Jabulani ou qualquer outro nome, rola pelos gramados no mundo afora e jorra milhões em contas bancarias. É o futebol total, por todos os ângulos, por todas as câmeras, tudo se debate. Embate por embate, lhe dão uma importância exagerada, como se uma nova guerra fosse criada a cada jogo.

Criam-se monstros. Os desta copa são os norte-coreanos. Choram-se retumbantes fracassos, como o dos “Azuis” franceses, que amarelaram logo na primeira fase e, por ironia do destino, caíram diante de africanos que, na história, trataram como coisas, num império em que o sol nunca se punha.

Nem Napoleão conseguiria impedir a débâcle de um time desmoralizado. Qual a própria França, país que no inicio do século passado estava abatido moralmente pelo escândalo do caso Dreyfuss. E levou uma surra no inicio da Primeira Guerra. Agora, os personagens são Domenech e Anelka, mas tudo passa, até uva passa.

A lógica do mercado da bola me remete ao capitalismo sexual, dos namoros de minha juventude no interior. As mais belas meninas se engraçavam com os riquinhos. Uma vez não mais virgens acabavam com os pobretões. Agora é o mesmo. Basta que um pimpolho se destaque no futebol e lá vai ele para a Europa, para o centro do mundo. E nós, da periferia, só os veremos já velhos, para encerrarem suas carreiras em nossos times.

A bola para nós, Brazucas, já ficou igual ao café nosso de cada dia. Nós produzimos, mas se quisermos qualidade temos que ir tomá-lo na Alemanha. Que pena, que lógica perversa, porque não veremos nossos jogadores em suas plenitudes. Hoje, tal qual astros depois do “espetáculo”, abraçam seus algozes. Afinal, embora de periféricos paises, jogam nos palcos europeus e asiáticos.

Esse mundo do faz-de-conta tem prazo de validade. É só até o fim da copa e todos voltarão aos mesmos treinos, boates e andarão nos mesmos carrões, sejam eles africanos ou latinos, todos estão na nova ordem mundial. Da esférica bola para o esférico globo terrestre, seus pontos cardeais sempre convergentes nos rios de Euro e Dólar. E tantas benesses que, mesmo efêmeras, são o ópio de cada um de nós.

Por pouco mais de trinta dias, a cada quatro anos, e ainda dizemos que o pão e o circo foram-se com o império romano. Mas, vou parar de escrever. Afinal, a bola já está no circulo central e o relógio de meu tempo já está na boca do juiz. The end ao cérebro.
Luis Carlos Romazzini