Santos, a cidade vermelha, o berço do porto-mor do Brasil, vizinha da célula-mater de nossa pátria, cidade que sempre pulsou indignações e desassossegos. Que forjou-se na luta contra o arbítrio e, uma vez usurpada em sua liberdade, jamais se calou. Centro maior de uma região, quer seja no sindicalismo, nas artes, na musica ou no esporte. Berço do Santos Futebol Clube, que mesmo eu sendo um empedernido tricolor, tenho que render homenagens pelo seu passado.
Santos, que deu ao Brasil grandes nomes, como os Irmãos Andradas; juristas famosos, como Saulo Ramos e Vicente Cascione; prefeitos como Saturnino de Brito e Davi Capistrano; homens de coragem, como Osvaldo Justo, que preferiu a prisão ao posto de Prefeito, quando covardemente os militares cassaram Esmeraldo Tarquinio; e lideres religiosos, como D. Davi Picão.
Santos, que não se rendeu a Tomas Cavendish e que superou tragédias, como a queda dos morros de 1956, e a morte precoce de Luis La Scala. Santos, que retomada a democracia tem tido papel de vanguarda em nossa representação política, mas que, ao completar 464 anos, precisa refletir sobre seus caminhos, mais precisamente sobre seu futuro e sobrevivência. Não sou como D. Quixote, nem desejo travar luta contra moinhos de vento, mas uma coisa é preciso dizer como apaixonado por esta região e ex-aluno da Universidade Católica. Santos: a cidade não suportará o atual estagio de construção de torres e mais torres, sem que a sua tão decantada qualidade de vida seja duramente afetada.
Me aflige, e muito, ver uma cidade a cada dia se inviabilizar, sem que o povo tenha nas mãos seu destino. Não pode uma meia dúzia de iluminados pretender resolver sobre os destinos de toda uma cidade. Santos, por sua historia de luta, precisa urgentemente retomar em suas mãos decisões tão importantes. Precisa buscar respostas para perguntas que não querem calar, como por quais ruas transitarão os milhares de carros a mais, como será cuidado o esgoto a ser produzido, de onde virá água de qualidade para todos e em quais praças os enamorados farão juras de amor. Talvez sejam inquietações de um lunático, mas também poderão ser cruciais, para que Santos tenha centenas e milhares de felizes aniversários.
Luis Carlos Romazzini