Confesso que nunca descobri quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha. Não sei mais, também, quem pariu ou continua a parir quem. Se a moral é a mãe da lei ou filha dela, amante, teúda ou manteúda. Sei lá o quê. Chegamos ao ponto de ter que criar um monte de Leis para cuidar justamente de quem teria por dever cuidar para manter a Lei.
Se Salomão fosse vivo não mais seria lembrado como sábio, pois hoje há mães capazes de permitir que se parta uma criança ao meio, mas com certeza estaria às voltas com a lei pelo plágio que fez dos Cânticos dos Cânticos. Hoje nos cercamos tão velozmente de leis, ao mesmo passo em que velozmente perdemos o senso.
A velha e decantada religião, sempre o bastião da moralidade das civilizações, em grande parte agora é mercadológica. Tem que ser vigiada em sua espoliação ao individuo, superou a visão opiácea de Marx. Xii, até nessa área ele perdeu para Adam Smith. Hoje é VQP, vale quanto pesa, vale quantos tens de rebanhos. No troca-troca da mais valia política, não vale mais o tamanho ou suntuosidade do púlpito, mas sim quantos se postam diante dele.
Se Cristo vivesse, andaria cercado de seguranças, pois vá hoje expulsar vendilhões do templo pra ver o que dá, negociaria com os políticos, policias, milícias. Se fosse andar sobre o mar, escorregaria na lama podre da Bahia da Guanabara. Se fosse multiplicar os peixes, veria o tamanho da fome do Leão do Imposto de Renda.
Ah, como estou velho. Lembro de minha professora ao explicar a Guerra do Paraguai, que enchia o peito ao repetir a frase, que teria sido dita por Caxias: “sigam-me os que forem Brasileiros”. Ah, meu amigo. Se formos ver a historia nua e crua, creio que deve ter sido dito: “sigam-me os que quiserem saquear primeiro”. E o grito de independência ou morte, creio ter sido: “que bela terra, merecia melhor sorte”. Um velho dito espanhol está na ordem do dia: “quanto tienes, quanto vales, se nada tienes, nada vales”. Pudor é o que mesmo?
Luis Carlos Romazzini