Este caso trouxe-me à mente uma das primeiras obras recomendada pelo Dr. Frederico, meu mestre na Faculdade de Direito da Unisantos, ainda no primeiro ano. Era um livrinho simples sobre O Caso dos Exploradores de Cavernas, de Lon D. Fuller, cuja situação era muito parecida, vez que os chilenos ficaram 17 dias sem qualquer comunicação com o mundo exterior.
No livro, uma intrincada historia de sorteio e morte de um dos exploradores e a chegada do resgate, logo após o sacrifício justamente do autor da proposta de se sacrificar alguém para servir de alimento aos demais. Daí por diante, três são as teses que de tão bem elaboradas você acaba por crer que ambas são corretas, mas tem que optar e justificar uma delas, um dos belos exercícios da faculdade.
Obviamente que a realidade envolve milhões de telespectadores mundo afora. Envolve também interesses poderosos da mídia e da política. Não por acaso, lá estava o Presidente Sebastian Piñera, a receber o primeiro a ser resgatado, inclusive com lágrimas nos olhos.
Mas, antes de qualquer analise, o sofrimento daqueles 33 homens e seus familiares serviram e muito para mostrar-nos a existência de sentimentos puros de solidariedade e fé, pois não foram poucos os casos individuais e coletivos de manifestação de carinho, de orações. Enfim, revivemos sentimentos bons que muitas já julgavam extintos no mundo contemporâneo.
Até mesmo nós, aqui, a milhares de quilômetros do deserto do Atacama, nos emocionamos com as imagens de pessoas saindo frágeis para o deleite dos braços de suas amadas, seus filhos e pais, cenas que mostram que ainda há esperança, ainda existem sentimentos puros, em que pese sejam necessárias muitas vezes tragédias para fazer brotar a solidariedade e gestos de amor.
Estes acontecimentos, por mais dramáticos que sejam, por mais que muitos se aproveitem de uma ou outra maneira, deixam os gestos, as lágrimas de felicidade, os abraços ternos e a leveza das almas. Mesmo aos que não creiam em almas, mas que elas se desnudam se desnudam, muito mais que possamos esperar. Ainda há esperanças na raça humana, em que pesem os bicudos tempos em que vivemos.
Luis Carlos Romazzini