quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Artigo - Escolas e presídios

Quem não constrói salas de aulas, edifica prisões. Este bordão, sempre lembrado nos discursos vazios dos políticos em geral, se for verdadeiro na essência, com o tempo está se mostrando insuficiente diante da violência e do ‘emburrecimento’ de uma geração inteira, no Estado mais rico da Federação, cuja culpa maior é da progressão continuada.

Temos continuadamente assistido cada vez mais cenas de violência na porta das escolas, nas praças, na internet, enfim, a vida de crianças e jovens está, de forma medieval, contaminada. Agarram-se, agridem-se e, em muitos casos, filmam e colocam na rede mundial de computadores.

É a lei do mais forte e, pasmem, das mais fortes, pois vemos meninas agarrando-se pelos cabelos nos shows de horrores, cujos pais, quando perguntados, rapidamente tentam transferir a responsabilidade para a escola, para o professor, para os inspetores, para o papa, ou para o bispo. Nunca admitem que o respeito e a educação têm que partir de casa. Afinal, o que lhes importa é nota em boletim, para exibirem como troféus aos outros pais.

Caro leitor. Faça um teste você mesmo. Pare na porta de uma escola e veja o ritual do pobre porteiro, tendo que ameaçar fechar os portões e sendo ridicularizado, olhado como simples serviçal, enquanto crianças se agarram aos beijos. Outros, no total desprezo pelos horários. Do lado de dentro, novas lutas. Agora, os inspetores pelos corredores e, por fim, os pobres professores, a esperarem os ‘atrasadinhos’. Depois, implorarem por silencio e, enfim, quem sabe poderem passar um pouquinho de conhecimento aos poucos que desejam, pois a grande massa quer mesmo é vadiar.

Vadiar mesmo, me desculpe, mas não há outro verbo que melhor se amolde. Esta contaminação da escola já está passando para a vida cotidiana e explodem os casos de roubos e furtos. Muitos nem querem mais trabalhar, especialmente onde se têm facilidades, como em nosso litoral, cujos turistas são inesgotáveis fontes de lucros fáceis, quando não presas fáceis aos roubos à luz do sol.

É pela má educação que estão esvaindo-se os valores. Primeiro, porque freqüentar escolas, especialmente as públicas, não é mais sinônimo de aquisição de conhecimentos e preparo para a vida. Depois, porque a escola é o ambiente maior de socialização de qualquer criança que sai do seio familiar para o seio social. E ai, nada mais maléfico do que o mundo insano e sem limites, em que se transformou a escola.

Os professores, por sua vez, são as salsichas no pão, apertadas de todos os lados. Primeiro, pelos parcos salários, mas também pela legislação que não conhecem, pois não sabem sequer seus direitos e nem como agir diante das agressões diárias. Resultado: lotam consultórios e engrossam as licenças saúde, pois não suportam o manicômio escolar.

Por derradeiro, as crianças e jovens só conhecem do Estatuto da Criança o que lhes interessam. Não conhecem as leis, o código penal e suas conseqüências. Vivem no mundo do ‘tudo posso’, até cruzarem a linha tênue que divide a vadiagem do crime. E aí, os leões dos corredores escolares, aqueles que a todos afrontam, que humilham e agridem professores, inspetores e pais, viram gatinhos de madame nos corredores dos presídios, mas já é tarde, e não apenas Inês é morta, mas, sobretudo, a infância, a juventude e a esperança de um país mais próspero.
Luis Carlos Romazzini