quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Artigo - Amores de ocasião

Comparo as relações de poder que tenho vivenciado, bem verdade no pequeno mundo de um legislativo municipal, ao cio de minha cachorra de pouco tempo atrás. Muitas vezes, meu portão ficou cercado pelos cachorros da rua, dos quais a consegui proteger, para que não ficasse prenha, mas por descuido meu ela acabou prenha pelo outro cão que tenho no quintal. Ou seja, a lambança estava mais próxima que eu pensava, me fazendo lembrar um velho dito: “Que Deus me livre dos amigos, pois dos inimigos cuido eu”.

Assim tem sido a sina de prefeitos, sustentados por bancadas que, não raras vezes, deitam e rolam em privilégios, são consortes nos crimes e vilanias, só que por proteção constitucional. E não poderia ser diferente, pois não se pune em lugar algum do mundo parlamentares pelos seus votos.

Assim sendo, aqueles que por dever teriam que vigiar se acumpliciam nas maracutaias e todos lucram, enquanto o povo perde e perde muito. O que me dá razão são os milhares de processos que tramitam contra os prefeitos em nosso Estado.

Bem verdade que, após as leis de Licitações Publicas, Responsabilidade Fiscal e agora a da Ficha Limpa, colocaram obstáculos, mas a farra continua. E continua por um simples motivo: a cultura patrimonialista da sociedade e, por via direta de seus eleitos, a noção de ser dono do espaço político, de não ter que prestar contas, caminha rapidamente pelo “direito” de saquear, enriquecer a si próprios e aos seus, na grande maioria dos casos.

O destemor pela lei e a certeza de que com dinheiro pode se contratar os melhores advogados, no pós-governo, as relações incestuosas com parte da mídia, que muitas vezes fecha os olhos para determinadas questões cruciais, de falta de zelo com os recursos públicos. Isso tudo só vem à tona quando estes prefeitos fora do poder entram no calvário por eles construídos.

Diante das centenas de processos, com penas de ressarcimento e até privativas de liberdade, desaparecem aqueles “amigos”, que tudo aprovavam nos parlamentos e que nada deixavam investigar. Pior ainda quando parlamentares reeleitos votam para manter pareceres do Tribunal de Contas que rejeitaram as contas de prefeitos aos quais estavam “apaixonadamente” ligados em seus mandatos pretéritos.

Aí, meu amigo, Inês é morta. Que saibam os prefeitos que, na hora do cadafalso, não adiantará lamentos e murmúrios, irão sozinhos e os amigos de outrora estarão se esbaldando nas cadeiras de sempre, nos discursos de sempre e, com certeza, cruzarão calçadas para não ter que passarem ao lado de mortos vivos da política.

Portanto, prefeitos e prefeitas, se os amores de praia não sobem ao planalto, os de Carnaval não vão ao altar, salvo raras exceções. Cuidado, pois mandatos de executivos são finitos, só com uma reeleição e, mais cedo ou mais tarde, poderão ver seus amigos tornarem-se algozes. Afinal, o mundo gira enquanto a lusitana roda. Eu já castrei minha cachorra. Quanto aos senhores, mesmo que tivesse não daria conselhos, pois estão no “puder”, mas esse afrodisíaco tem conseqüências. Embora não seja profético, recomendo: cuidem-se.
Luis Carlos Romazzini

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