Artigo - A escada do diabo

Espertino da Hora queria de qualquer maneira subir na vida. Não mais se conformava em labutar dia após dia, sem que o sucesso lhe batesse a porta. Recorreu aos numerólogos, trocou de nome e nada. Foi ao Padre, ao Pastor, ao Pai de Santo e nada mudava. Fez diversas promessas e nada.

Já quase descrente, apelou para simpatias. E aí seguiu-se como nota de um dólar. Buda de bumbum pra rua. Sobrou até para um pobre coelho, cuja pata virou patuá e nadica de nada. Os anjos do céu pareciam tê-lo abandonado, de tal sorte que saiu a procura de Deus. Nas andanças, pensava ele nos argumentos para convencer o cidadão lá de cima.

Eis que de repente Deus está a sua frente, ali, sem tirar nem pôr, cercado de anjos prontos aos seus reclamos. Rapidamente, sacou de uma lista de coisas que desejava: aquela mulher bonita, o carrão, a bela casa de praia, o barco, poder político e tudo mais que poderia pedir. Ao que lhe responde Deus, de pronto: ok, meu brother, tudo bem, é só subir naquele muro e terás tudo o que me pede.

Parou por uns instantes. Mal podia crer que, embora Deus não fosse as Organizações Tabajaras, todos os seus problemas acabaram. Correu ao pé do muro, mas só então percebeu que o muro era tão alto que tocava no céu. Pensou logo: quem construiu este muro deve ter a escada.

Mais uma vez clamou por Deus que, de pronto, colocou-se à sua frente: pois não, meu filho. Deus, já que podes tudo, seria possível me emprestar uma escada? Ao que Deus lhe respondeu: Pô irmão, queres tudo fácil, toda a luxuria contemplada e na maior das facilidades. Não, não tenho e digo mais: a vida na minha fé é de sofrimentos e privações. Já te dei tudo, dê seu jeito, não tenho escadas, nem mandarei fazer, vire-se.

Saiu o pobre, desolado. Como poderia ele, tudo estava ali, mas cadê a maldita. Bateu na boca, bendita escada. Mal saíra e viu uma placa: aluga-se escadas. Um cheiro forte de enxofre tomou-lhe as narinas, afinal era Lúcifer em sua lojinha. Meio sem jeito, mas, o que fazer? Queria subir ao céu, não tinha outro meio, foi logo dizendo: quanto custa o aluguel? Ao que Lúcifer lhe respondeu: o exato preço de sua alma. Pensou, pensou e topou a parada. Afinal, era só para ir ao céu e pegar todas as maravilhas da vida. Ademais, de que lhe serviria a alma mesmo.

A cada degrau, mais se aproximava do paraíso e mais pensava em uma saída. Encontrou um advogado, contou lhe o problema e este lhe passou a receita: prometeste entregar a escada em que data? Ah, não tem data no contrato, então pronto, é só enrolar o diabo, mesmo porque, quando entrares no Céu, nada mais poderá fazer contra ti.

Abriu um sorriso do tamanho do mundo. É, é isso mesmo, vou passar o Diabo para trás, exclamou, sem saber que o Diabo viera em forma de Advogado. Num momento, puxou-lhe a escada e ele caiu direto no mármore do inferno. Daí em diante, ninguém mais soube de nada, apenas não conseguira chegar ao céu na escada do diabo. Pena que muitos políticos, em suas ligações perigosas, ainda continuem acreditando isto ser isto possível.

Luis Carlos Romazzini