quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Artigo - Panetones fora de época

Quase aos cinqüenta, posso dizer que já vi muita coisa. Nada de muito ou de tudo o nada. Não sei se creio ou descreio. Paradigmas, eu já perdi faz tempo. Só o tempo e suas armadilhas, que não me comovem, mas me movem a ver o outro lado, o lado de sempre. Da mesmice avacalhada, das mesmas caras, mesmas posturas, cinismos e falta de composturas.

Sou da geração desgraça, do choque do petróleo e da Aids. Do fim da lealdade e do consumismo. Acredito já ter visto, ouvido e sentido. Sou da geração Big Brother total e invertido, pois a obra de George Orwell (1984) mirava no socialismo, mas são os dramas do capitalismo que estão nos levando à câmeras por todos os lados. Para conter a violência, para registrar taras, para chantagens. Enfim, não é mais o clique da foto, mas a filmagem, pronta, fria, incontestável, a gerar teorias conspiratórias.

O caso do “mensalão” de Brasília é um misto de tudo. Tem panetone, tem pastor orando pelo mensageiro da corrupção que lhe trouxe os caraminguás, tem dinheiro na meia, na cueca, na bolsa, um “Pour Pourri” de modos, jeitos e trejeitos para agasalhar o vil metal. As desculpas, então, são de uma criatividade de roteiro cinematográfico. Esfarrapadas sim, mas trazem uma certeza: nada como um dia atrás do outro, com uma noite no meio para amar, tramar, conspirar. Enfim, o inexorável tempo é o templo da absolvição de todos. Literalmente

O personagem central, desta vez, é o mesmo que um dia chorou e jurou pelos próprios filhos que não fraudara o painel do Senado. Depois, voltou atrás e confessou a própria mentira. E, pela franqueza, deram-lhe um mandato de Deputado Federal. Logo depois, o Governo do Distrito Federal. Até sobraria a indagação: de quem é a culpa? De eleitos ou eleitores?

Há uma letra de samba que diz: “se gritar ‘pega ladrão’, não fica um meu irmão”. Parece ser o caso de Brasília, pois toda a linha sucessória esta no visgo da corrupção. Confesso que desejo, aos cem anos, ter visto muito mais do que já vi até agora. Perdoem-me a licença poética, mas já vi ex-negro (Michael Jackson); ex-anões, pois em Cuba já implantam ossos que esticam o cidadão em até trinta centímetros; já há religiões em que o cerne é o depoimento, entre tantos que se dizem ex-gays. Agora, meu irmão, só vivendo muito para ver um ex-corrupto. Por enquanto, Deus nos Arruda. Com panetone e tudo.

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