Dos tempos de guri, me sobraram as lembranças das árvores lá do sitio de meu avô. Tinha umas mangueiras ao lado do carreador, eram baixas e, de tão frondosas, nada florescia sob suas sombras, apenas uns gambás que escolhiam suas forquilhas para fazerem seus ninhos. Em nosso quintal tinha uma farinha seca, como tantas que se vê nas margens das rodovias no oeste paulista. São diferentes. Suas minúsculas folhas permitem a entrada dos raios-de-sol. Mesmo embaixo tudo floresce, que ao longe podemos vê-las. São altas, esguias e belas.
Creio que as árvores têm vida. Em meus devaneios, chego a pensar que elas têm almas, pois na vida muitos de nós somos tal qual as árvores, quanto mais frondosos, mais sufocantes com nossos filhos, de sorte que raros são aqueles poderosos, cujos filhos não se tomam santas nulidades. Na política, nas artes, na imprensa, no futebol, sempre o nepotismo rola solto, mas não há tatu que agüente ver um pai tentando forçar seu filho a ser uma extensão de sua própria vida.
Em São Paulo, tivemos Adhemar de Barros, uma das maiores raposas da política, porém, seu filho Adhemarzinho, com muito custo, tornou-se um simples e apagado deputado, do qual muitos repetiam o vaticínio do próprio pai: "esse não é do ramo".
Perpetua-se, no Brasil, a praga do pai rico, filho nobre e neto pobre. Basta que olhemos os fundadores da poderosa FIESP. Quantas fortunas desapareceram, cujos sobrenomes muitas das vezes só são lembrados nas ocorrências fúnebres ou policiais. Suas fortunas viraram pó, antes que os próprios ossos, nos famosos cemitérios da paulicéia desvairada.
Precisamos escolher qual o tipo de árvores queremos ou estamos sendo. O sol brilha todo dia, lindo, gratuito e gracioso, nos desafia, nos faz transpirar, nos amedronta e inspira. Nos faz até mesmo buscar sombras e escolher caminhos. Pode até ser escaldante, mas nunca sufocante.
Precisamos fazer com que nossas gerações sintam os raios do sol, não se sintam abrigados de tudo, todo o tempo. Precisam saber que nas sombras nada floresce, que entre as mangueiras e as farinhas secas, há sempre uma disputa por um lugar ao sol. O sol que faz a fotossíntese nas plantas faz também em nossas almas.
É o antídoto perfeito contra a acomodação, contra o marasmo, contra aqueles que ficam nos versos "deixa a vida me levar", pois, quem é guiado pelo vai da vida, jamais construirá seu próprio destino. Sejamos, pois, mais farinhas secas e menos mangueiras, em que pese uma dar frutos e a outra não. Afinal, a possibilidade de colher frutos alheios é o mais curto caminho para a cobiça, a avareza e a insignificância.
Luis Carlos Romazzini
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
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Um comentário:
Muito bom, o artigo... Define, em poucas palavras e com o tirocínio de sempre, o momento pelo qual nossa cidade atravessa... Parabéns, Valdir Dias
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